Lula e a política da astúcia adota uma abordagem biográfica bastante peculiar para compreender como Luiz Inácio Lula da Silva – um homem de origem das mais humildes, com quatro anos de ensino primário – chegaria à presidência do Brasil em 2003. O livro tenta responder a uma pergunta básica: como o agora mundialmente conhecido Lula ascendeu de seu status como migrante rural pobre em São Paulo para virar um metalúrgico, um líder de greve sindical e uma importante liderança para a esquerda brasileira antes de finalmente chegar à presidência? Mas, para respondê-la, nos coloca muitas outras questões. Qual foi a configuração de predisposições, entendimentos e habilidades que caracterizam o jovem Lula, e de onde vieram? Como ele vivenciou o mundo em transformação que rapidamente se tornava a São Paulo industrializada? Para os trabalhadores industriais dessa cidade, como era o relacionamento entre homens e máquinas e entre homens e patrões a quem deviam labor e obediência? Quando e como Lula adquiriu o discernimento necessário para manobras políticas bem-sucedidas? E depois que o adquiriu, de onde fluiu seu excepcional dom da palavra, a confiança e facilidade com que ele falava e a ousadia com que ele agia?

A trajetória política sui generis de Lula é abordada a partir da análise da cidade de São Paulo de meados do século XX até 1980, especialmente em sua esfera sindical, onde sua liderança foi forjada. Essa biografia é a primeira a investigar os aprendizados decisivos que possibilitaram que Lula se tornasse um torneiro mecânico habilidoso e um líder sindical não apenas capaz, mas também brilhante. Ao adotar o biográfico, esse livro também rejeita, ao mesmo tempo, uma narrativa excessivamente individualista na qual a história pessoal de Lula desloca a história de seus relacionamentos. Assim, o autor coloca em primeiro plano os processos sociais, políticos e culturais através dos quais Luiz Inácio da Silva se tornou o Lula imaginado, que é agora patrimônio comum de todos os brasileiros.

Essa biografia oferece novas visões – baseadas em fontes até agora não utilizadas, incluindo agências de inteligência – sobre as ações extraordinárias dos metalúrgicos do ABC Paulista e de seus sindicatos durante a década de 1970. Diferentemente de outros que discutiram a vida do presidente Lula, o autor aborda como questão analítica essencial a insurgência massiva de trabalhadores que emergiu na indústria metalúrgica do ABC, um mundo de homens – e de algumas mulheres, que compunham 10% da mão-de-obra – que não se identificavam coletivamente como trabalhadores fabris e que, carecendo de unidade de ação e de consciência comum coletiva, não pareciam de forma alguma um terreno fértil para organização. Para além do simbólico, o autor investiga as ações de Lula durante aqueles anos e o legado por elas deixado, em termos tanto do que Lula aprendeu quanto do que ele veio a significar para aqueles que cruzaram seu caminho – seja diretamente ou pela mídia.